Eventos internacionais para discutir o futuro da energia entraram para a agenda científica de diversos países. Na última semana, São Paulo foi palco de mais um encontro nesse sentido com a rodada latina do Global Sustainable Bioenergy (GSB). O potencial de geração de bioenergia da América Latina, a possibilidade de ampliar o número de postos de trabalho com o etanol, a necessidade de mais pesquisas sobre capacidade de produção de biocombustíveis e de veículos automotores, foram alguns dos principais pontos tratados nos três dias do workshop.
Conforme apresentado no evento, a América Latina tem um grande potencial de geração de biocombustíveis, podendo se tornar um grande fornecedor mundial. É necessário, porém, realizar levantamentos sobre o potencial de produção de bioenergia nos próximos 50 anos.
A avaliação é do professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências (IB) da USP e um dos coordenadores do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), Marcos Buckeridge. A análise é uma das etapas do GSB que envolve uma série de debates e estudos para avaliar a possibilidade de substituir 25% dos combustíveis fosses por biocombustíveis no transporte mundial.
Os dados de demais estudos e artigos existentes vão compor uma plataforma de informações, onde será possível ter uma precisão melhor do potencial dos países latinos. “Podemos, por exemplo, reunir 10 mil artigos sobre a soja e ter uma perspectiva muito boa sobre seu potencial energético,” disse o professor. Além disso, a continuidade de produção de informações é importante para os trabalhos, já que há muito mais dados disponíveis sobre a América do Norte do que sobre a América do Sul.
Brasil
Foi unânime entre os pesquisadores que a América Latina tem um potencial significativo de expansão da produção de biocombustéveis sem comprometer a agricultura e os ecossistemas. As experiências do Brasil e da Argentina na produção de etanol foram apontadas como exemplos de desenvolvimento sustentável bem sucedidos dos combustíveis renováveis. Nesse contexto, o Brasil conta com uma posição ainda mais favorável, por se o único país que já realizou uma substituição de combustíveis em escala.
Os participantes do encontro ressaltaram a supremacia brasileira no quesito biocombustíveis. O presidente do comitê diretor do GBS, Lee Lynd, afirmou que, mesmo sendo responsável por metade da bioenergia no continente, o Brasil ainda tem muito a crescer no setor. Ele complementa, no entanto, que os países vizinhos também devem trabalhar com os biocombustíveis, para favorecer a troca de tecnologias e produtos na região.
O questionamento principal do encontro, avaliar a possibilidade de substituir 25% da energia fóssil por bioenergia, será trabalhado nos próximos encontros. Na segunda fase será organizado o projeto de pesquisa que tentará responder a questão.
Nas três reuniões já realizadas, a resposta preliminar é positiva, segundo o diretor científico da FAPESP, Brito Cruz. As discussões determinaram que essa resposta só será um ‘sim’ definitivo se estudarmos adequadamente a questão da sustentabilidade e criarmos as soluções positivas para isso, disse o pesquisador.
Combustíveis
Mas as pesquisas sobre o potencial de produção de energéticos renováveis dos países não serão o único centro de atenção dos debates. Os estudos com os motores de veículos deverão ditar a mudança do uso da energia nos próximos anos.
Alterar o padrão dos motores para se tornar menos poluente ou apto a usar biocombustível é uma forma rápida do que medidas que possam ampliar a sustentabilidade dos projetos. Por exemplo, mudar a configuração de um prédio já construído pode ser tarefa demorada e cara. Essas construções têm vida útil entre 50 e 100 anos, disse o x-reitor da USP e ex-ministro da Educação, José Goldemberg. Devido a essa conta, demorada e onerosa, o físico defende que a mudança da matriz comece pelos veículos.
Goldemberg apontou que o petróleo move 30% dos veículos nos Estados Unidos. No restante do planeta, essa fonte é empregada em cerca de 13% dos sistemas de transporte e, no Brasil, sua participação é ainda maior. “Isso é porque o transporte aqui é basicamente rodoviário”, disse.
O físico salientou que a frota mundial de veículos tem aumentado gradativamente, e poderá chegar ao mesmo patamar americano de um automóvel por habitante. Na fila das pesquisas, também há espaço para os veículos elétricos, híbridos e a hidrogênio.
Empregos
A ampliação em 15% da produção de etanol no Brasil deverá aumentar em 170 mil o número de postos de trabalho em toda a cadeia. O percentual representa um incremento de R$ 236 milhões na economia. O dado é fruto de uma pesquisa da USP, apresentado durante o evento.
A pesquisa mostra que mesmo com a modernização das lavouras o número de empregos crescerá. A mecanização deverá levar a perda de postos de trabalho na proporção de oito trabalhadores sem emprego para cada máquina adquirida.
*Com informações da Agência Fapesp
DAYANA AQUINO*
Da Redação - ADV
Fonte:
Blog do NassifPostado por
Bioenergia em 29 março 2010 às 17:00